Panetone, peru… e azia? Como fazer para que o cardápio das festas não vire um problema (Foto: Senac/Divulgação)
As festas de fim de ano costumam trazer uma combinação clássica: horários irregulares, pratos mais pesados, bebida alcoólica e longas horas de confraternização. Para o aparelho digestivo, porém, esse cenário pode se tornar um desafio.
O gastroenterologista dos hospitais São Marcelino Champagnat e Universitário Cajuru, Jean Tafarel, explica que, quando há exagero alimentar, o estômago precisa produzir mais ácido para dar conta da digestão.
“Esse excesso facilita o retorno do conteúdo para o esôfago, e aí surgem sintomas como queimação, azia e regurgitação”, afirma.
Além disso, a lentidão do esvaziamento gástrico após grandes refeições favorece o estufamento típico dessa época. Quem convive com gastrite ou refluxo precisa redobrar o cuidado, especialmente porque as ceias costumam ocorrer tarde da noite.
Segundo o especialista, o ideal é respeitar um intervalo mínimo de duas horas entre comer e deitar.
“Quando a pessoa se deita logo após a refeição, é como uma garrafa mal tampada: o conteúdo tende a voltar”, explica.
Alguns itens tradicionais da ceia também podem agravar o refluxo por relaxarem o esfíncter esofágico inferior. Entre eles estão frituras, empadões, massas muito gordurosas, queijos amarelos, embutidos e molhos ricos em tomate. Vinhos e até a menta podem ter o mesmo efeito em pessoas mais sensíveis.

Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
Álcool e intoxicações alimentares: o outro lado das celebrações
O consumo exagerado de bebida alcoólica é outro fator de risco comum em dezembro. Tanto bebidas destiladas quanto fermentadas podem inflamar o pâncreas, causando pancreatite — uma dor intensa, em faixa, que pode irradiar para as costas. Além disso, o álcool contribui para o acúmulo de gordura no fígado.
Para Tafarel, certos comportamentos acendem um alerta importante.
“Se a pessoa bebe pela manhã para melhorar a ressaca ou se irrita quando alguém questiona seu consumo, já há sinais de que é hora de rever hábitos”.
No verão, também aumentam os casos de intoxicação alimentar. Muitas ocorrências estão relacionadas ao armazenamento inadequado ou ao descuido após a abertura das embalagens. O médico lembra que a validade impressa no rótulo só vale enquanto o produto estiver fechado.
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“Depois que a embalagem é aberta, o prazo muda completamente, e muita gente esquece disso”, destaca.
Deixar alimentos por longos períodos fora da geladeira e depois tentar refrigerá-los novamente também eleva o risco de contaminação. Cuidados básicos continuam essenciais, como lavar bem as mãos, higienizar os alimentos e mantê-los cobertos para evitar insetos.
Para quem já exagerou, comer devagar e evitar grandes volumes de líquido imediatamente após a refeição pode ajudar, já que o excesso de bebida dilui o suco gástrico e torna a digestão mais lenta. Ainda assim, sintomas como dor abdominal forte, febre, vômitos persistentes ou diarreia exigem atenção médica imediata, especialmente em idosos, crianças e pessoas com imunidade reduzida.
Encontrar equilíbrio nas festas não significa abrir mão das tradições, apenas cuidar para que o corpo acompanhe o ritmo das celebrações.
Como resume Tafarel, “pequenas atitudes podem garantir que a festa seja lembrada pelo encontro, e não pelo desconforto do dia seguinte”.
Fonte: Hospitais São Marcelino Champagnat e Universitário Cajuru








