A BRS Terena tem sabor doce, baixa acidez e boa conservação pós-colheita e produtividade média de 1,2 kg por planta, podendo chegar a 1,8 kg em algumas safras
Alta produtividade, sabor mais doce, baixa acidez e longa conservação pós-colheita são as principais características da nova cultivar de amora-preta desenvolvida pela Embrapa.
A BRS Terena é focada ao mercado de consumo in natura, trazendo vantagens a agricultores e consumidores.
Maria do Carmo Bassols Raseira, pesquisadora da Embrapa Clima Temperado (RS) e coordenadora do projeto de melhoramento de amoras-pretas, destaca que a BRS Terena produz, em média, 1,2 kg por planta, com picos de produção de até 1,8 kg, proporcionando aos produtores um potencial de lucro líquido em torno de R$ 30 mil por hectare.
“ Além disso, a cultivar recém lançada traz vantagens operacionais, como menor densidade de espinhos em relação à cultivar Tupy, o que facilita o manejo e a colheita”, salienta.
A pesquisadora ressalta que BRS Terena é uma excelente opção para produtores que querem investir no mercado de frutas frescas.
“Seu sabor mais doce do que ácido e o tempo de prateleira prolongado fazem com que as frutas da nova cultivar sejam mais atrativas ao mercado”, afirma.

A BRS Terena é focada ao mercado de consumo in natura Foto Francisco Lima/Embrapa/Divulgação
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Diferenciais em sabor e qualidade pós-colheita
O sabor é um dos principais destaques da BRS Terena. Comparada a outras cultivares, como a BRS Tupy, a Terena apresenta um sabor doce-ácido, com teor de sólidos solúveis (Brix) de 10,3º, superior aos 8,9º da Tupy e aos 9,5º da BRS Cainguá.
“O mais importante é que a proporção de açúcar em relação à acidez (responsável pela sensação doce ao paladar) é quase o dobro do obtido na cultivar Tupy. Isso se traduz em uma fruta mais doce, ideal para o consumo in natura, que atende à preferência do mercado brasileiro por frutas de menor acidez”, explica Maria do Carmo.
Segundo a especialista, outro diferencial é a capacidade de conservação. Em testes realizados no Laboratório de Fisiologia de Pós-colheita da Embrapa Clima Temperado, a nova cultivar manteve sabor, cor e firmeza durante 10 dias de armazenamento refrigerado, enquanto outras cultivares apresentaram maior degradação nesse período. As frutas observadas foram colhidas com ponto de maturação comercial. “Como o experimento foi por dez dias, pode ser que ainda conserve por mais tempo”, analisa a pesquisadora.

A nova variedade pode produz 1,2 kg por planta, com picos de produção de até 1,8 kg Foto Silvio Alves/Embrapa/Divulgação
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Adaptação e regiões indicadas para cultivo
A nova cultivar é indicada para as regiões Sul e Sudeste e algumas áreas do Nordeste do Brasil, onde já existem cultivos de amoreira-preta, podendo atingir altas produtividades.
Andrea de Rossi, pesquisadora da Embrapa Uva e Vinho (RS) que lidera os experimentos para validação da cultivar em Vacaria (RS), na região dos Campos de Cima da Serra, confirma que a cultivar atingiu produções de 1,8 kg/planta na média de quatro safras avaliadas, superando a Tupy em algumas condições.
Onde comprar mudas
As mudas da BRS Terena estão disponíveis para compra em viveiros licenciados, como o Frutplan Mudas, em Pelotas (RS), e o Guatambu Viveiro de Mudas, em Ipuiúna (MG).
Como parte da tradição do programa de melhoramento genético, o nome da cultivar homenageia os povos indígenas brasileiros, neste caso, o povo Terena. É resultado de uma parceria entre dois centros de pesquisa da Embrapa localizados no Rio Grande do Sul: Embrapa Clima Temperado e Embrapa Uva e Vinho.
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Melhoramento genético de amoreiras-pretas
O desenvolvimento da BRS Terena é resultado de décadas de pesquisa da Embrapa, que começou a introduzir amoreiras-pretas no Brasil nos anos 1970. As primeiras cultivares de amoreira-preta, de origem norte-americana, foram introduzidas no Brasil em 1972, com a implantação da primeira coleção semi-comercial em 1974, no município de Canguçu (RS).
A primeira cultivar lançada, a partir do melhoramento, foi a Ébano, em 1981, embora o programa de melhoramento genético tenha sido registrado oficialmente apenas em 1983, com o lançamento da segunda cultivar, a Negrita.

Histórico do melhoramento genético de amoreiras-pretas
Desde então, o programa lançou as cultivares Guarani (1988), Tupy (1988) – ainda a mais cultivada no Brasil -, Caingangue (1992), BRS Xavante (2002) e, mais recentemente, a BRS Xingu (2015), a BRS Cainguá (2018), a BRS Ticuna (2023) e a BRS Karajá (2024).
A Tupy, por exemplo, ainda é a cultivar mais plantada no Brasil, graças à sua adaptação ao manejo diferenciado para a colheita programada (escalonamento para época mais lucrativa ao produtor) e à produtividade. No entanto, novas cultivares, como a BRS Terena, trazem avanços importantes, como sabor mais doce, maior conservação e facilidade de manejo.
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Atualmente, a Embrapa dispõe de cinco cultivares de amoreira-preta lançadas nos últimos dez anos e licenciadas junto a viveiristas para comercialização de mudas.
Segundo a pesquisadora Maria do Carmo, o trabalho de melhoramento segue em andamento na busca por reunir várias características numa única cultivar. “A ideia também é ofertar diferentes cultivares, algumas mais precoces e outras mais tardias do que a Tupy, de maneira a ampliar o período de colheita”, explica.
Com relação ao sabor, o objetivo da pesquisa é desenvolver materiais com relação açúcar-acidez mais alta com foco no mercado in natura. “O mercado brasileiro prefere sabor mais doce”, afirma a profissional.
Maria do Carmos complementa que, “além disso, o programa de melhoramento busca aliar outra característica relevante ao campo: a ausência de espinhos, reduzindo dificuldades na colheita”.
Porém, de acordo com a pesquisadora, a maioria das variedades sem espinhos possui sabor amargo predominante, sendo mais adequadas à indústria, como é o caso das cultivares Ébano e BRS Xavante. “A BRS Karajá tem sabor menos amargo, mas ainda não chegamos no que queríamos. A cada geração, vamos avançando um pouco mais”, conta.
O trabalho da pesquisa também busca o desenvolvimento de cultivares remontantes ou reflorescentes – que podem produzir no outono e no verão, mesmo sem tratamento especial -, como ocorre com a Tupy.
A especialista destaca que além disso, também são valorizados aspectos como tamanho da fruta, resistência a doenças, produtividade igual ou maior do que a Tupy, tamanho pequeno das sementes, firmeza e conservação pós-colheita.

A firmeza da BRS Xingu garante boa conservação pós-colheita Foto Paulo Lanzetta /Embrapa/Divulgação
Amora-preta BRS Xingu (2015)
Desenvolvida para condições de inverno ameno, destaca-se por sua maturação mais tardia do que a Tupy, que permite estender o período de colheita em duas semanas, em média.
Em avaliações durante seis safras, também apresentou produção média de 800g a mais de frutas por planta do que a cultivar Tupy, considerada referência.
A firmeza garante boa conservação pós-colheita. É indicada para os estados do Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, na região Sudeste; e Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, na região Sul.
A BRS Xingu pode ser utilizada para comercialização in natura ou para elaboração de doces, principalmente geleias, desidratados, sucos, iogurtes e sorvetes.

A variedade BRS Cainguá precisa de 200 a 300 horas de acúmulo de frio hibernal (temperaturas iguais ou menores que 7,2 °C) para apresentar uma boa produção Foto Lirio_Reichert/Embrapa/Divulgação
Amora-preta BRS Cainguá (2019)
Tem excelente aceitação para o consumo in natura devido à ótima aparência e ao equilíbrio entre acidez e açúcar.
Precisa de 200 a 300 horas de acúmulo de frio hibernal (temperaturas iguais ou menores que 7,2 °C) para apresentar uma boa produção. Foi desenvolvida pela Embrapa em parceria com outras instituições.

Um hectare da BRS Ticuna pode render até 20 toneladas de frutas, sendo considerada uma das cultivares mais produtivas Foto Francisco Lima/Embrapa/Divulgação
Amora-preta BRS Ticuna (2023)
Cultivar altamente produtiva destinada ao processamento, como opção para a produção de geleias e sucos, por apresentar alta acidez.
Um hectare pode render até 20 toneladas de frutas, sendo considerada uma das cultivares mais produtivas, o que faz superar a cultivar referência que é a BRS Tupy.
É resistente a doenças e indicada para o cultivo em sistema orgânico, sendo necessário o controle de ferrugem e cuidados com a mosca-das-frutas (Anastrepha fraterculus) e com a Drosófila da Asa Manchada (Drosophila suzukii). É adaptada aos estados da região Sul do Brasil.

Cultivar sem espinhos, o que facilita o manejo, a BRS Karajá tem moderada acidez Foto Rodrigo Franzon /Embrapa/Divulgação
Amora-preta BRS Karajá (2024)
Cultivar sem espinhos, o que facilita o manejo, mas com moderada acidez.
Suas frutas, de coloração preto-avermelhada, são de tamanho médio – massa média de 4,5 g por fruta – e formato ovalado, com sabor doce-ácido levemente amargo.
São recomendadas para congelamento, processamento ou consumo fresco. A produção média é de 1,4 kg por planta.
Amora-preta BRS Terena (2024)
Com características como sabor mais doce, longa conservação e fácil manejo, representa um avanço significativo para o cultivo de amoreiras-pretas no Brasil e promete ser uma aliada importante para produtores em busca de qualidade e lucro.
Com produção média de 1,2 kg por planta, com picos de produção de até 1,8 kg, a BRS Terena oferece aos produtores um potencial de lucro líquido superior a R$ 30 mil por hectare, além de vantagens operacionais, como menor densidade de espinhos, que facilita o manejo e a colheita.
Fontes: Embrapa Uva e Vinho e Embrapa Clima Temperado
Foto abertura: Nova cultivar de amora BRS Terena Foto Silvio Alves/Embrapa/ Divulgação