Iniciativa une ciência, afeto e tecnologia para que mais animais vivam com menos dor e mais qualidade de vida (Foto: Fabio Rodrigues/Agência Brasil)
Mais conforto, eficácia e praticidade no tratamento de doenças crônicas comuns em animais idosos, como artrite e osteoartrite, são a proposta da ForNano, startup brasileira que desenvolveu um filme farmacêutico nanoestruturado capaz de liberar, de forma controlada, o princípio ativo de medicamentos no organismo dos animais.
A ideia nasceu na universidade com foco no uso odontológico humano, mas a dificuldade regulatória na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a barreira de entrada no mercado farmacêutico para pessoas levaram as fundadoras a buscar outro caminho.
“Desenvolvemos o filme, mas trabalhar com anestésico é muito difícil”, lembra a farmacêutica Viviane Guilherme Damasio, cofundadora da empresa.
O direcionamento mudou durante o programa PIPE Empreendedor, da FAPESP. Em conversas com outros participantes, as empreendedoras ouviram que o formato poderia ser útil para o setor veterinário, especialmente para fitoterápicos.
“Participantes de outras empresas falavam.
‘Nós trabalhamos com fitoterápicos e os comprimidos e outras formas farmacêuticas são um desafio para alguns bichinhos. Então, o filme parece muito interessante’”, recorda Damasio.
Menos saturado e mais receptivo à inovação, o mercado veterinário apresenta processos regulatórios menos burocráticos — conduzidos pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) — e incentivos para tecnologias inovadoras.
“Além da carência de soluções, a planta com que trabalhamos já é usada no segmento e tem potencial para melhorar a vida de muitos pets”.
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Uma plataforma versátil
O filme anestésico deu lugar a uma plataforma para diferentes medicamentos.
“Vimos que poderíamos adaptá-lo para outros princípios ativos, como os fitoterápicos anti-inflamatórios”, afirma Juliana Damasceno Oliveira, também cofundadora.
Com nanopartículas, o efeito terapêutico se prolonga, reduzindo a frequência das doses e facilitando a adesão ao tratamento.
A tecnologia também usa excipientes funcionais.
“Uso uma planta com fim anti-inflamatório, mas os compostos da nanopartícula também têm fins anti-inflamatórios”, explica Damasio. Essa ação sinérgica potencializa os resultados, com menos efeitos colaterais e custo reduzido.
“O tutor não vai mais precisar dar remédio três vezes ao dia. Uma aplicação diária já será suficiente.”
A formulação líquida já está pronta. Agora, a ForNano busca transformar o produto em versão seca, necessária para aplicação em filmes ou pó. Testes-piloto com cães devem começar em breve, conduzidos pela veterinária Joyce Magalhães.
“Vamos fazer análises de sangue, de fezes, tudo para acompanhar os benefícios da formulação desenvolvida”, diz Damasio.
Próximos passos
As primeiras clientes serão farmácias de manipulação veterinária, mais flexíveis para incorporar novidades.
“Vamos fornecer a matéria-prima com instruções de uso. Mais adiante, poderemos vender os filmes prontos”, projeta Damasio.
O horizonte de mercado humano é de pelo menos cinco anos, mas a ambição é global.
“Nosso sonho é ver essa tecnologia ganhar o mundo”, diz Oliveira. Entre os planos estão internacionalização, geração de empregos e incentivo a novas pesquisas.
“Hoje em dia, os tutores acompanham seus pets de forma muito mais próxima. Existe grande preocupação com qualidade de vida, inclusive com tratamentos preventivos”, aponta Damasio.