O produto central da Ethikabio é o mel de aroeira, oriundo do Ceará, Bahia e Norte de Minas (Foto: Divulgação/Ethikabio)
O mel de aroeira produzido por pequenos apicultores do Nordeste brasileiro começa a ganhar espaço nas prateleiras da Suíça — e, gradualmente, em outros mercados europeus.
À frente desse movimento está a Ethikabio, empresa que integra o SNASH, hub de inovação apoiado pela Sociedade Nacional de Agricultura. Fundada em 2022 pelo brasileiro Vicente Levy, a startup aposta no potencial do mel orgânico da Caatinga para diferenciar-se em um mercado dominado por produtos baratos e frequentemente adulterados.
Em entrevista à Revista A Lavoura, Chau Hue, country manager da Ethikabio no Brasil, explica que o negócio nasceu da experiência de Levy no agronegócio e do contato direto que teve com a apicultura na infância, quando acompanhava o pai, “um dos maiores exportadores brasileiros de mel na década de 90 até meados de 2000”.
Ao se mudar para a Suíça, Levy decidiu transformar esse legado em um empreendimento baseado em um produto único: o mel de aroeira.
Aroeira: um mel raro, escuro e de alta qualidade

Hue o descreve como “um mel escuro, bem escuro”, dotado de propriedades fenólicas superiores às dos méis convencionais.
Embora pouco usual ao consumidor europeu, o apelo ambiental e o impacto social da cadeia produtiva agregam valor.
Trata-se de um mel da Caatinga, bioma pouco explorado comercialmente, produzido por cerca de 200 famílias de apicultores familiares — número que pode chegar a 3 mil nos próximos anos.
A estratégia para ampliar a presença na Europa
A empresa começou sua atuação na Suíça, mas hoje avança a Alemanha e países nórdicos. A Ethikabio passou a priorizar negociações com grandes importadores, e não mais apenas com varejistas.
“Ao invés de vender somente os potes, é vender também em containers em que os volumes são bem maiores e você ganha escala”, afirma Hue.
Segundo ele, a empresa já mantém conversas avançadas com dois dos maiores importadores de mel da Alemanha e possui um distribuidor pronto para atuar nos países nórdicos.
O posicionamento internacional, entretanto, esbarra em um obstáculo clássico que é o preço
“O grande desafio é, no final do dia, o consumidor, que é “sensível ao preço”, diz. Méis da China, Índia e Argentina chegam ao mercado europeu por valores entre US$ 1 e US$ 2 por quilo — muitos deles com suspeitas de adulteração — enquanto o mel brasileiro custa entre US$ 3 e US$ 3,5.
Mesmo assim, a Ethikabio aposta que a demanda crescente por produtos orgânicos e rastreáveis pode consolidar um mercado de nicho para o Brasil.
Gargalos da oferta e a busca por consistência
A expansão internacional depende também de aumentar a oferta organizada de mel orgânico no Brasil — hoje, ainda limitada. Hue explica que o país tem dificuldade em repetir, nos mercados mais exigentes, o mesmo nível de estrutura já consolidado para exportar aos Estados Unidos.
Ele descreve diferenças marcantes entre cooperativas, relacionadas sobretudo ao acesso desigual à assistência técnica e às políticas públicas.
“As políticas públicas da agricultura são muito locais. Não existe uma política nacional, ou se existe, não chega de forma tão rápida”, observa Hue.
Para reduzir essa assimetria, a Ethikabio atua na certificação de novos grupos de apicultores, especialmente na Bahia, em parceria com o IBD, com expectativa de ampliar o número de produtores certificados já em 2025.
Construindo confiança para competir no exterior
O caminho para consolidar o mel orgânico brasileiro na Europa ainda é longo, e passa pela construção de reputação e pela confiança dos importadores.
“O desafio é trazer essa confiança que o produto é bom e que o Brasil consegue ser um parceiro em que o supply chain é confiável”, resume Hue.
Ainda assim, a Ethikabio acredita que o diferencial da Caatinga — aliado à força das famílias produtoras locais — pode transformar o mel de aroeira em um embaixador da produção sustentável brasileira no exterior.








