Investir em treinamento, tecnologia e infraestrutura adequados, pode reduzir perdas alimentares e garantir que os consumidores recebam produtos seguros e saudáveis
A segurança alimentar é um dos maiores desafios da saúde pública em escala global. De acordo com dados da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), a contaminação de alimentos é responsável por cerca de 600 milhões de casos de doenças alimentares anualmente. Isso quer dizer que quase um em cada dez habitantes adoecem por comer alimentos contaminados.
Para Ana Miranda, CEO da HB Pooling, essa estatística ressalta a importância de uma abordagem proativa para mitigar os riscos associados à contaminação cruzada. “Ainda mais levando em consideração estimativas da FAO que indicam que a demanda global por alimentos crescerá aproximadamente 56% até 2050, tornando o fornecimento de alimentos suficientes e seguros uma prioridade fundamental”, ressalta.
Mas, na visão dela, é possível reverter o jogo.
“A forma como as cadeias de abastecimento alimentar são geridas podem evitar que perigos como agentes patogênicos infecciosos (bactérias, vírus e parasitas) e contaminantes químicos entrem em contato direto com os alimentos”, explica, apontando os principais fatores e como evitar o problema.

Ao serem lavadas e desinfetadas entre os usos, o controle sanitário é muito superior em caixas plásticas retornáveis ao de papelão Foto Rafa Neddermeyer/Agência Brasil/Divulgação
1 – Falhas no transporte resultam em perdas bilionárias
Ana Miranda sublinha que reduzir perdas durante o transporte é uma prioridade para melhorar a segurança alimentar global.
Segundo sua informação, cerca de 13% dos alimentos são perdidos entre a colheita e o mercado, representando um valor anual estimado em US$ 400 bilhões. Essas perdas afetam diretamente a disponibilidade de alimentos nutritivos para populações vulneráveis.
“À primeira vista, o transporte de alimentos, do carregador ao descarregador parece simples. No entanto, inúmeras atividades críticas durante esse processo podem apresentar riscos de contaminação”, salienta a especialista.
Ela complementa que a contaminação cruzada ocorre quando agentes contaminantes, como bactérias, vírus ou alérgenos, são transferidos de um alimento ou superfície para outro.
“No transporte de alimentos, isso pode acontecer devido ao uso de veículos não higienizados, embalagens inadequadas ou com a mistura de cargas incompatíveis”.
Ela orienta que, para garantir que os alimentos cheguem às gôndolas dos supermercados em condições seguras, é essencial implementar práticas rigorosas de manuseio e transporte.
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Reduzir perdas durante o transporte é uma prioridade para melhorar a segurança alimentar global Foto HB-Pooling/Divulgação
2 – Cuidados desde o campo até a distribuição
Para a CEO da HB Pooling no que se refere ao transporte, os produtos agrícolas devem ser transportados em veículos que não tenham sido utilizados para o transporte de produtos potencialmente contaminantes, como animais ou produtos químicos. Inspeções frequentes devem ser realizadas para identificar sinais de pragas ou resíduos químicos.
“Além disso, motoristas e manipuladores devem ser treinados em práticas seguras de higiene e manuseio de alimentos”, completa a profissional.
Ana Miranda explica que para que as embalagens sejam seguras, a prevenção começa na origem.
“É fundamental usar embalagens de qualidade para minimizar danos mecânicos durante o empilhamento e o transporte. Elas devem prevenir o contato entre alimentos crus e cozidos e ser adequadas para evitar vazamentos e contaminação durante o transporte”, orienta.
Ela destaca que uma boa solução são as caixas plásticas retornáveis.
“Ao serem lavadas e desinfetadas entre os usos, é possível ter um controle sanitário muito superior ao das caixas de papelão, que são descartáveis, não laváveis e absorvem umidade e sujeira, sendo assim, um vetor de bactérias, fungos e pragas”, ensina.
Quanto às temperaturas, a especialista aponta que é vital manter os alimentos em ambientes controlados para prevenir o crescimento de patógenos.
“Alimentos perecíveis devem ser transportados em temperaturas adequadas para evitar o crescimento microbiano. É necessário utilizar termômetros e monitorar a temperatura durante o transporte”, frisa.

Ana Miranda: “evitar a contaminação cruzada no transporte de alimentos não é apenas uma questão técnica; é uma responsabilidade ética que envolve toda a cadeia logística”
3 – Dicas para supermercados e varejistas
A CEO da HB Pooling recomenda que, em relação ao treinamento de funcionários, é essencial capacitar os trabalhadores sobre as melhores práticas de manuseio de alimentos e contaminação cruzada.
“Realize treinamentos regulares e atualizações de procedimentos”, aconselha.
Já sobre a separação para armazenagem, o ideal, segundo a profissional, é separar alimentos crus de alimentos prontos para consumo e evitar o transporte conjunto de alimentos com produtos químicos ou não alimentares.
Outro conselho da especialista, a limpeza frequente é importante, recomendando implementar um cronograma rigoroso de limpeza para todas as áreas onde os produtos são armazenados e expostos.
“A desinfecção de superfícies e equipamentos é fundamental”, afirma.
Ana Miranda orienta ainda ser crucial realizar inspeções rigorosas antes do carregamento nos centros de distribuição.
“Veículos devem ser verificados quanto à presença de contaminantes físicos, biológicos ou químicos. Além disso, cargas devem ser documentadas detalhadamente para rastreabilidade e controle”, diz.
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Cadeia logística
A especialista enfatiza que evitar a contaminação cruzada no transporte de alimentos não é apenas uma questão técnica; é uma responsabilidade ética que envolve toda a cadeia logística.
Em sua avaliação, investir em treinamento, tecnologia e infraestrutura adequados, pode reduzir perdas alimentares e garantir que os consumidores recebam produtos seguros e saudáveis.
“Em um mundo onde milhões ainda enfrentam insegurança alimentar, cada medida conta para proteger vidas e promover a sustentabilidade”, frisa Ana Miranda.
Para a CEO da HB Pooling, com essas práticas em mente, é possível construir um sistema alimentar mais seguro e eficiente, alinhado aos objetivos globais da ONU para erradicar a fome e melhorar a qualidade dos alimentos disponíveis.