Estudo inédito revela oportunidades para o Brasil ampliar sua presença no tradicional mercado da Itália, onde o paladar do consumidor está em transformação (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
O tradicional espresso italiano pode, em breve, ter mais sotaque brasileiro. Apresentado na última quarta-feira (23), um estudo inédito elaborado pela plataforma de inteligência de mercado Raise X revela que o café brasileiro tem uma janela de oportunidade rara para expandir sua presença no disputado mercado italiano.
A pesquisa foi apresentada em evento organizado pelo SNASH (SNA Startup Hub), em parceria com a Câmara Italiana e a Heroes.
A diretora executiva da Câmara Ítalo-Brasileira de Comércio e Indústria do Rio de Janeiro, Regiane Bochichi, destacou a tradição da entidade e seu papel estratégico como ponte entre produtores brasileiros e compradores italianos.
“Oferecemos tipos de análise de mercado, como é o caso do estudo apresentado hoje com o nosso parceiro sobre o mercado sobre café”.
Com mais de 150 associados, incluindo as principais empresas italianas no Brasil, a Câmara atua como elo entre diferentes setores da economia.
“Além disso, realizamos sessões internacionais, organização de evento, feiras aqui e lá na Itália, A ideia é realmente fazer um ecossistema de negócios etre Brasile Itália, com feiras de mercado dos dois lados”, afirmou Bochichi.

(Esq.) Irma Feitosa, especialista em Comércio Internacional e ger. de País (Brasil) da Heroes , Rodolfo Teichner, especialistas em café e gerente do Grupo BestFork, Kimia Masghati, denvolvedora de negócios internacionais da Heroes, Regiane Bochichi, diretora da Câmara Italiana de Comércio do Rio de Janeiro e Leonardo Alvarenga, CEO do SNASH. Foto: Larissa Machado
Mudanças no consumo do café
Na apresentação do especialista em café Rodolfo Teichner, italiano radicado há 45 anos no Brasil e gerente do Grupo BestFork, foi reforçada a longa ligação histórica entre Brasil e Itália por meio do café.
“O café brasileiro é conhecido na Itália há muitos anos porque os italianos vieram aqui para fazer o café. Cerca de 1,2 milhões de italianos do Norte da Itália vieram entre o final do século 1800 e o início de 1900 para cultivar o café”, lembrou.
Teichner apontou que o consumo e a produção estão passando por transformações profundas, com um crescimento explosivo no valor do café nos últimos anos.
“Nos últimos três anos, o café viu a saca, de repente, sair de 150 dólares para 600 dólares. Isso é uma revolução”, disse, apontando o aumento da demanda de países como Japão e China por cafés de alta qualidade.
“Hoje são os maiores compradores de café de qualidade do Brasil e do mundo”.
Outro fenômeno que ele destacou foi o avanço da venda direta do produtor ao consumidor.
“Durante a pandemia, durante o delivery, durante a exclusão de alguns canais tradicionais onde se tomava café, o restaurante, o bar, o boteco, qualquer outra coisa, as fazendas, improvisamente, começaram a vender café diretamente para os clientes.”
Esse movimento tem impacto direto nas oportunidades de exportação do café brasileiro de qualidade para a Itália.
“Temos a enorme possibilidade de criar um mercado de cafés especiais diretamente para o cliente, na Itália e em outros países. Isso, do meu modo de ver, é a grande chance de fazer alguma coisa nesse sentido”.
Teichner também comentou o potencial inexplorado do estado do Rio de Janeiro como produtor.
“O estado de Rio de Janeiro produziu mais de 5 milhões de sacas de café em 1900. Agora tem o retorno nas fazendas que o tataravô, bisavô, simplesmente pai, deixaram. Tem algumas dezenas de fazendas muito importantes no estado do Rio de Janeiro”.
Ele destacou ainda o crescimento das microtorrefações italianas — “quando eu parti, tinha 3.500 torradores. Agora são algumas dezenas de milhares” — e o interesse crescente desses profissionais por cafés especiais com origem certificada e rastreável, o que cria uma demanda por conexão direta com pequenos e médios produtores brasileiros.
Grande mercado italiano

Irma Feitosa, especialista em Comércio Internacional e Gerente de País (Brasil) da Heroes. Foto: Larissa Machado
Na apresentação, Irma Feitosa, gerente da Heroes no Brasil, detalhou o levantamento feito por meio de sua ferramenta de Inteligência Artificial: Raise X, sobre o mercado italiano.
“São 40 páginas de informações, gráficos e números com relação ao mercado italiano de café”, explicou.
O estudo mostra que 92% dos italianos consomem café em casa, e o expresso nos tradicionais bares, que funcionam, segundo a Heroes, como um lugar de socialização e construção de laços afetivos.
“Os bares são os verdadeiros centros culturais da Itália”, disse Feitosa.
O mercado italiano movimentou 6,5 bilhões de euros até 2025, com expectativa de 3% de crescimento anual.
Ela alertou, no entanto, para os desafios enfrentados por produtores brasileiros, especialmente no acesso às certificações exigidas pelo mercado europeu. “A dificuldade maior do pequeno produtor hoje no Brasil é a certificação.”
Entre os segmentos em ascensão na Itália estão o café especial, cafés orgânicos e produtos com processos sustentáveis.
“O mercado hoje está se transformando não só para a gente, mas para outras nacionalidades que estão lá. Então, o gosto, o paladar tem mudado muito na região”, disse Feitosa.
Ela finalizou reforçando que a ferramenta de inteligência da Raise X pode apoiar estratégias de entrada para diferentes perfis de produtores e distribuidores. “Dependendo da complexidade, ela pode fazer [análises] em 20 minutos ou um pouco mais. Todas as informações são verificadas através dos nossos analistas”.