MGS Epamig Amarelão é tolerante à seca e a algumas das principais doenças da cultura e tem sido premiada pela qualidade da bebida
Como se adaptar às mudanças climáticas a fim de manter a produção e a qualidade do café, um dos produtos mais fortes do Brasil? Uma resposta está na ciência e um bom exemplo é a cultivar MGS Epamig Amarelão que se caracteriza pela produtividade, tolerância à seca e resistência à ferrugem.
Originada do cruzamento entre Catuaí Amarelo IAC 30 e Híbrido de Timor UFV 445-46, essa cultivar se caracteriza pela produtividade, tolerância à seca e resistência à ferrugem. O registro se deu em novembro.
Especialmente na região do Vale do Jequitinhonha, a cultivar tem chamado atenção pela precocidade e pela qualidade final da bebida. O café produzido pela Fazenda Sequoia, em Angelândia, inclusive, já foi premiado na região da Chapada de Minas e alcançou elevada pontuação em concursos nacionais e internacionais.
“Os concursos são o nosso termômetro, uma chancela de qualidade. A cultivar surpreende pela qualidade da bebida, que une o frutado, o floral e a acidez. Já conquistamos quatro prêmios com o café Amarelão”, afirma Rodrigo Crimaudo Mendes, gerente da propriedade, que tem como foco a produção sustentável de cafés especiais.

MGS Epamig Amarelão é tolerante à seca e a algumas das principais doenças da cultura Foto Antônio Carlos Baião/Embrapa Café/Divulgação
Melhoramento participativo
Vinícius Teixeira Andrade, engenheiro agrônomo e pesquisador da Epamig, conta que a cultivar MGS Epamig Amarelão se destacou pela produtividade em um período de elevado déficit hídrico no Vale do Jequitinhonha.
Ele ressalta que a cultivar é resultado de mais de quatro décadas de pesquisas do Programa de Melhoramento do Cafeeiro conduzido pela Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), em parceria com a Embrapa Café e a Universidade Federal de Viçosa (UFV).
Andrade relata que o processo, que começou nos campos da Epamig e da UFV, evoluiu para testes que avaliaram as plantas quanto ao desempenho produtivo, resistência à ferrugem, ao nematoide da espécie Meloidogyne exigua, e para as características dos grãos nas unidades da Empresa em São Sebastião do Paraíso, Machado e Patrocínio.
“Após algumas gerações, foi feito um experimento na propriedade do senhor Ismair Alves Campos, em Capelinha. Por volta de 2014, ocorreu uma seca severa na região e as progênies da cultivar Amarelão se mostraram menos afetadas pela restrição hídrica e elevadas temperaturas, mantendo-se vigorosas e produtivas”, detalha o especialista.
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Interesse pelo cultivo
Segundo o pesquisador, esse fator fez com que outros produtores se interessassem pelo cultivo. “Cabe mencionar que eles fizeram um belo trabalho na seleção dessas plantas, o que é um exemplo de melhoramento participativo, no qual os cafeicultores atuam decisivamente na escolha das progênies que serão plantadas”, avalia.
O agrônomo destaca que as cultivares são uma tecnologia que demora vários anos para ser desenvolvida. “O melhoramento consiste no acompanhamento e na reprodução das diferentes gerações da linhagem em diferentes condições edafoclimáticas”, prossegue Andrade.

Cafeicultor Sérgio Meirelles: “cultivar vem surpreendendo pela produtividade, qualidade e precocidade – Foto Erasmo Pereira/Ascom/EPAMIG/Divulgação
Cultivar que surpreende
O cafeicultor Sérgio Meirelles Filho, do município de Aricanduva conta que visitou a lavoura no primeiro ano, que foi um ano muito seco. “Uma lavoura de terra ácida, que deu uma safra maravilhosa. A informação foi se espalhando por diferentes mídias. Eu, inclusive, plantei e fiquei muito satisfeito. É uma cultivar que vem surpreendendo pela produtividade, qualidade e precocidade”, afirma.
Na Fazenda Sequoia, o plantio da MGS Epamig Amarelão começou em 2021. “O produtor tem necessidade, ansiedade e ao saber de algo que está dando certo, quer testar também”, explica o produtor Rodrigo Crimaudo, acrescentando que, atualmente a propriedade tem uma área plantada de, aproximadamente, 17 hectares da cultivar e planos de expandir para 50 hectares.
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Novas avaliações
Em 2023, a cultivar MGS Epamig Amarelão foi incluída em diversos experimentos de competição de cultivares, que integram o projeto “Validação de cultivares de cafeeiros e transferência de tecnologias para as regiões cafeeiras de Minas Gerais”, financiado pela Fapemig.
“Apesar de termos a informação de que há mais de 5 milhões de plantas da cultivar no Vale do Jequitinhonha, não temos dados concretos em outras regiões”, informa Andrade, ressaltando a importância da avaliação em diferentes condições de solo, clima, altitude, latitude, espaçamento e em sistemas produtivos de sequeiro e irrigados.
“Em ambientes onde já tivemos quatro colheitas a produtividade foi superior a 50 sacas. Agora, as avaliações do desempenho em campo serão expandidas para dar mais robustez e precisão às nossas recomendações. É uma cultivar que pode compor o parque cafeeiro nacional por sua resistência à ferrugem, aos nematoides, tolerância ao déficit hídrico, precocidade de maturação dos frutos e qualidade de bebida”, avalia o pesquisador.
Fonte: Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig)
Foto abertura: Cultivar Amarelão Foto Acervo Fazenda Sequoia/Divulgação








