No coração da Amazônia, conferência deve voltar a tratar a conservação florestal como eixo de mitigação das mudanças climáticas.Veja o que você precisa saber sobre a COP30 em Belém
Pela primeira vez sediada no Brasil, a 30ª Conferência do Clima da ONU (COP30), que ocorrerá de 10 a 21 de novembro, chega em um ponto de virada da governança climática.
Estarão reunidos em Belém (PA) para mais uma Conferência das Partes ( Conference of the Parties), chefes de Estado, negociadores, empresas, cientistas e representantes de comunidades para rediscutir prioridades: financiamento climático com foco em resultados, integridade de créditos de carbono e o papel das soluções baseadas na natureza.
Para Jeronimo Roveda, diretor de Relações Institucionais da Carbonext, o pano de fundo é claro: conter a perda de florestas tropicais é condição para qualquer trajetória crível de mitigação nesta década.
Ele enumera cinco frentes que ajudam a entender a COP deste ano e a desvendar porque as decisões tomadas em Belém poderão redefinir o mercado e a política climática no curto prazo. Confira.

Projetos florestais evitam emissões agora mesmo, protegem biodiversidade e geram renda em territórios vulneráveis Foto Marcio Nagano / Carbonext /Divulgação
1- A COP da Amazônia: ciência, política e tempo de resposta
Roveda destaca que realizar a COP30 em Belém significa aproximar a decisão política da realidade biofísica que sustenta o clima sul-americano.
Ele ressalta que a Amazônia armazena enormes estoques de carbono e influencia regimes de chuva que sustentam agricultura e energia de boa parte do continente. “A escolha do local deixa a mensagem de que conservar não é tema setorial: é segurança climática, hídrica e alimentar, perpassando diversos segmentos produtivos”, afirma.
O Brasil chega com capital político para articular países tropicais e mostrar como a conservação pode gerar desenvolvimento quando combinada com governança e métricas.
Na avaliação do diretor de Relações Institucionais da Carbonext, “a Amazônia não é apenas um palco diplomático; é o centro nervoso do equilíbrio climático, onde conservar significa preservar o tempo que ainda temos para agir”.

Área de conservação em Paragominas, no Pará: incentivos econômicos para frear o desmatamento e manter a floresta em pé Foto Marcio Nagano /Carbonext/ Divulgação
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2 – Financiamento climático: a proposta do TFFF em foco
Roveda explica que o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF) é uma proposta de fundo de investimento global para recompensar financeiramente países que preservam suas florestas tropicais. Proposta pelo Brasil na COP28, a iniciativa pretende remunerar, de forma estável e previsível, países e comunidades que entregam conservação mensurada.
O empresário esclarece que, diferentemente de iniciativas episódicas, o desenho proposto mira pagamentos recorrentes atrelados a indicadores objetivos, reduzindo a volatilidade de recursos para quem efetivamente mantém a floresta em pé.
Ele completa que o debate em Belém deve girar em torno de três pontos práticos: como definir a linha de base de referência, como comprovar adicionalidade em territórios complexos e como repartir recursos entre governos, comunidades e projetos.
“Se houver clareza nesses mecanismos, o TFFF pode se tornar um eixo de financiamento por resultados, capaz de catalisar investimento privado e multilateral para áreas de alta pressão de desmatamento. O fundo será lançado oficialmente na COP30, já com um aporte de US$ 1 bilhão (equivalente a R$ 5,3 bilhões) do governo brasileiro”, enfatiza o especialista.
3 – REDD+: alicerce das soluções baseadas na natureza
O modelo REDD+ (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal) deve voltar ao centro da discussão climática porque entrega resultado imediato numa janela crítica.
“Enquanto as tecnologias de remoção demoram para escalar e têm um custo considerável, projetos florestais evitam emissões agora mesmo, protegem biodiversidade e geram renda em territórios vulneráveis”, avalia Roveda .
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) tem apontado que a natureza pode responder por uma fatia relevante da mitigação nesta década, o que desloca o foco para integridade, governança e monitoramento — e não para uma disputa entre conservação e restauração.
Segundo o diretor da empresa, no Brasil, iniciativas auditadas já mostram essa combinação de impacto climático e social. “Projetos REDD+ verificados e de integridade alta, como os desenvolvidos pela Carbonext, protegem mais de 6 milhões de hectares, beneficiam mais de 5 mil famílias e evitam milhares de toneladas de CO₂ por ano”, ressalta.
Para ele, “o REDD+ é pragmatismo climático: organiza incentivos econômicos para manter a floresta em pé agora, sem substituir os projetos de reflorestamento (ARR) e de agricultura regenerativa (ALM). Pelo contrário: servem de base para que eles prosperem e, depois, também possam ser conservados”.

Roveda : “O legado de Belém dependerá menos do volume de compromissos e mais de escolhas que preservem a base da nossa estabilidade: a floresta” Foto arquivo pessoal/Divulgação
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4 – Integridade e “permanência”: o que muda com o Art. 6.4
Roveda salienta que as decisões de outubro do Órgão Supervisor do Artigo 6.4 mantiveram as soluções baseadas na natureza dentro do mecanismo de créditos do Acordo de Paris e reforçaram pilares como adicionalidade, vazamento e linhas de base conservadoras.
Ao mesmo tempo, segundo sua informação, sinalizaram como lidar com “não permanência” — risco de reversão que, em projetos florestais, exige buffers, monitoramento e respostas proporcionais às realidades de cada metodologia.
“O recado para o mercado é pragmático: calibrar regras para que projetos de alta integridade sejam viáveis operacionalmente. A integridade não se confere por rótulo metodológico, mas por evidências verificáveis. Esse equilíbrio é chave para destravar capital, especialmente para países do Sul Global, onde está a maior parte do potencial de mitigação via natureza”, avalia o especialista.
5 – O legado possível: liderança brasileira e coalizão tropical
Roveda acredita que a oportunidade de legado da COP30 está em consolidar uma coalizão de países tropicais ancorada em conservação, bioeconomia e financiamento por resultados. “Isso significa conectar TFFF, mercados voluntário e mecanismos do Acordo de Paris a políticas públicas que reduzam risco regulatório e deem previsibilidade a quem investe em natureza”, reforça.
O diretor de Relações Institucionais da Carbonext poderá que, se Belém conseguir transformar discurso em critérios e cronogramas, a conferência será lembrada não apenas pelas promessas, mas pelas escolhas que viabilizaram escala com integridade. “O legado de Belém dependerá menos do volume de compromissos e mais de escolhas que preservem a base da nossa estabilidade: a floresta. Sem conservação agora, não há meta que se sustente, sintetiza o especialista.”








