Enviado Especial com foco em Agricultura conta que neste mês será lançado um documento que vai tratar dos últimos 50 anos do agro brasileiro (Foto: Reprodução/Arquivo pessoal)
A Conferência do Clima das Nações Unidas (COP30), que será realizada em Belém em 2025, representa uma oportunidade única para o Brasil mostrar ao mundo a força de sua agricultura tropical sustentável.
A avaliação é do ex-ministro da Agricultura e Enviado Especial com foco em Agricultura da COP30, Roberto Rodrigues, que destaca o papel estratégico do agro brasileiro na transição climática e na promoção da paz global.
“É uma honra enorme poder representar o setor em um evento dessa dimensão. Apesar de não ser uma COP da agricultura, trata-se de uma COP no Brasil, e o mundo inteiro estará atento ao que será apresentado. Temos uma chance única de mostrar o agro brasileiro tropical, sustentável e replicável em outros países de clima similar”, afirma Rodrigues.
Segundo o ex-ministro e membro da Academia Nacional de Agricultura da SNA, a COP30 será uma espécie de vitrine para a experiência de sucesso da agricultura tropical brasileira – um modelo que alia ciência, tecnologia e sustentabilidade.
“Minha missão será justamente essa: mostrar ao mundo a eficiência e a capacidade de replicação do agro brasileiro nos trópicos”, diz.
50 anos de inovação tropical
Rodrigues conta que ainda em outubro será lançado um documento que reúne dados e informações sobre os últimos 50 anos do agro brasileiro, com o objetivo de mostrar como o país se tornou referência mundial em produção sustentável.
“O documento mostra que a tecnologia e a ciência fizeram com que o Brasil desse um salto extraordinário de produção tropical sustentável. E entram todas as atividades produtivas, grãos, proteínas, a agroenergia também”, explica.
A agricultura tropical, de acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), se distingue da agricultura de zonas temperadas pela constância de sol e calor, o que permite múltiplos ciclos de cultivo e alta produtividade.
Por outro lado, os solos tropicais apresentam desafios como acidez e altos teores de alumínio, exigindo inovações em manejo e fertilidade — justamente o campo em que o Brasil se destacou.
Para Rodrigues, esse avanço é resultado direto da pesquisa científica nacional. “A minha ambição, o que eu imagino é que essa COP no Brasil vai permitir que mostremos ao mundo que a agricultura tropical é sustentável de fato”, afirma.
Financiamento e comércio justo
O ex-ministro defende que a experiência brasileira deve inspirar outros países tropicais, mas ressalta que a difusão desse modelo depende de apoio financeiro e de mudanças nas regras globais de comércio.
“É fundamental haver pelo menos dois pontos de comportamento global. O primeiro, financiamento, já que nem todos os países possuem condições próprias para poder desenvolver uma tecnologia tropical do padrão que fizemos aqui nesse período todo”, pontua.
“E o segundo é que as regras de comércio sejam flexibilizadas, porque, hoje, com o processo de países desenvolvidos, é muito difícil que um país entre no processo de produção, a partir do zero, sem que haja um comércio mundial mais justo e mais correto”, explica.
Para Rodrigues, o mundo tropical pode ser protagonista de uma nova agenda de desenvolvimento sustentável e de estabilidade global.
“Precisamos mostrar ao mundo que o que foi feito aqui é perfeitamente factível em outros países tropicais, de tal forma que o mundo tropical possa ser responsável por aquilo que eu chamo hoje de os quatro cavaleiros modernos do apocalipse: a segurança alimentar, a transição energética, a desigualdade social e as mudanças do clima“, diz.
“Eu tenho o convencimento de que o mundo tropical é quem vai resolver essas questões todas e, com isso, garantir a paz universal. É um projeto de busca da paz universal”, completa.
O papel da bioenergia
A transição energética é outro ponto de destaque na visão de Rodrigues. O ex-ministro lembra que o Brasil tem uma das matrizes mais limpas do mundo, impulsionada pela bioenergia produzida a partir da cana-de-açúcar e da soja.
“O etanol de cana-de-açúcar emite apenas 9% do CO₂ que a gasolina emite. Portanto, é um setor sequestrador de carbono. O biodiesel de soja emite 19% do que o diesel de petróleo emite. Hoje, o Brasil tem na área de florestas plantadas 10 milhões de hectares de floresta plantada, que sequestra carbono”, informa.
A recente Lei do Combustível do Futuro, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, reforça esse caminho. A norma cria programas nacionais de diesel verde, combustível sustentável para aviação e biometano, além de estabelecer o marco regulatório para a captura e estocagem de carbono — um passo importante para reduzir emissões e atrair investimentos estimados em R$ 260 bilhões.
Com esse conjunto de políticas, Rodrigues acredita que o país chega à COP30 com uma mensagem poderosa. A agricultura tropical sustentável, diz ele, é prova de que é possível produzir, preservar e inspirar o mundo a seguir o mesmo caminho.