Relatório destaca que o Brasil pode atender 15% da demanda de transporte marítimo global com biocombustíveis, reduzir 170 Mt de CO₂e e atrair investimento de US$ 90 bilhões (Foto: Divulgação Citrosuco)
São Paulo, setembro de 2025 – O Boston Consulting Group (BCG) apresentou, durante o Brazil Climate Summit, em Nova York, um estudo que posiciona o Brasil como um ator estratégico na descarbonização do transporte marítimo mundial.
O relatório, intitulado “Seizing Brazil’s Potential for Low-Emission Marine Fuels: Unlocking Opportunities in Biofuels Under the IMO Net Zero Framework”, destaca as vantagens competitivas do país e o papel que seus biocombustíveis podem desempenhar na transição energética global do setor naval.
Segundo a consultoria, o Brasil, já consolidado como o segundo maior produtor de etanol e biodiesel do mundo, reúne as condições ideais para liderar a oferta de combustíveis marítimos de baixa emissão e atender às exigências da estrutura regulatória IMO Net Zero Framework (IMO NZF) — plano da Organização Marítima Internacional que estabelece metas de emissões líquidas zero para o transporte marítimo a partir de 2028.
“Com as embarcações precisando reduzir drasticamente a intensidade de suas emissões de gases de efeito estufa, e com penalidades que variam de US$ 100 a US$ 380 por tonelada de CO₂ equivalente para o não cumprimento, haverá uma demanda crescente por combustíveis marítimos de baixa emissão”, explica Arthur Ramos, diretor executivo e sócio do BCG.
“Neste cenário, os biocombustíveis brasileiros, como biodiesel e etanol, oferecem alternativas de rápida implementação, competitivas em custo e escaláveis, apoiadas pela restauração de terras degradadas.”
Custos menores e potencial de investimento bilionário
O estudo aponta que o biodiesel brasileiro (B100) apresenta custos de abatimento entre US$ 220 e US$ 230 por tonelada de CO₂e em portos nacionais, e entre US$ 280 e US$ 300/tCO₂e em terminais internacionais como Roterdã e Cingapura — valores inferiores às penalidades previstas pela IMO.
O etanol brasileiro, por sua vez, tem custos ainda mais baixos: entre US$ 205 e US$ 210/tCO₂e em portos brasileiros e US$ 265 e US$ 275/tCO₂e no exterior.
Com essa vantagem econômica, o BCG estima que o país poderia reduzir cerca de 170 milhões de toneladas de CO₂e por ano, atender até 15% da demanda global de energia do transporte marítimo até 2050 e atrair cerca de US$ 90 bilhões em investimentos direcionados à cadeia de valor de biocombustíveis marítimos.
O relatório ressalta que, para que esse potencial se concretize, será essencial avançar na consolidação regulatória da IMO, definir mecanismos de incentivo claros — com conclusão prevista até março de 2027 — e promover inovações tecnológicas, sobretudo na adaptação de motores a metanol para compatibilidade com etanol.
Soluções em três horizontes de tempo
O BCG estrutura o potencial brasileiro em três horizontes de desenvolvimento.
No curto e médio prazo, “o biodiesel e o etanol oferecem alternativas de rápida implementação, competitivas em custo e escaláveis, apoiadas pela restauração de terras degradadas”, afirma o estudo. Os chamados biodiesel blends — misturas compatíveis com motores convencionais — podem ser usados em cerca de 90% da frota marítima atual, o que reduz custos de adaptação e acelera o impacto climático positivo.
No médio e longo prazo, o relatório aponta que o potencial de bio-GNL (bio-LNG) no Brasil é “significativo”, mas ainda dependerá de maior materialidade da demanda e do desenvolvimento de infraestrutura de distribuição e liquefação, hoje incipiente no país.
Já no longo prazo, o BCG projeta que o Brasil tem um forte potencial em combustíveis de próxima geração, como os e-biocombustíveis e o e-metanol. No entanto, a concretização dessas oportunidades “dependerá do acesso a capital, da maturidade tecnológica e da capacidade de adaptação dos motores” utilizados no transporte marítimo.
Recuperação de terras e agricultura regenerativa
Além da competitividade econômica, o BCG destaca o potencial brasileiro na restauração de terras degradadas como pilar para expandir a produção de biocombustíveis de forma sustentável.
O país é líder mundial em agricultura regenerativa, com cerca de 100 milhões de hectares destinados à integração lavoura-pecuária-floresta e ao plantio direto.
Desse total, aproximadamente 25 milhões de hectares poderiam ser direcionados a culturas voltadas à produção de biocombustíveis, combinando o aumento da produção energética com o reflorestamento e a segurança alimentar.
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Corredores verdes e liderança global
Para o BCG, a criação de corredores verdes e o aproveitamento de pastagens degradadas serão decisivos para escalar a produção e posicionar o Brasil como líder global na transição energética marítima.
“Essas são oportunidades claras para o país investir, construir capacidade e fortalecer sua posição na transição energética global”, conclui Ramos.
Com abundância de recursos naturais, experiência consolidada em biocombustíveis e condições climáticas favoráveis, o Brasil se apresenta como uma das poucas nações capazes de oferecer, em larga escala, soluções imediatas e de baixo custo para a descarbonização do transporte marítimo internacional.