A startup Bioplix cria tecnologia que pode aumentar a competitividade de frutas, legumes e verduras brasileiras no mercado internacional (Foto: Mapa)
De uma sala dentro da Incubadora Empresarial do Centro de Biotecnologia (IECBiot) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), nasceu uma ideia. Foi a partir dali que a Bioplix, uma deep tech fundada em 2021, criou uma solução capaz de trazer mais qualidade e menor perdas para as frutas e verduras brasileiras que chegam às mesas do mundo, respeitando rigorosamente as exigências internacionais de segurança dos alimentos.
A frente desse projeto está o engenheiro químico, Luan Paz, CEO da companhia, mestre e doutorando em engenharia de materiais pela UFRGS.
“A Bioplix é uma startup de base científica, o que chamamos de deep tech. Trabalhamos para desenvolver tecnologias focadas no setor pós-colheita, especialmente para aumentar a vida útil de frutas, legumes e verduras”, explica o CEO.
Soluções para um problema bilionário
O Brasil é o terceiro maior produtor de frutas do mundo, mas ainda luta para conquistar espaço no mercado de exportação de alto valor. Parte dessa dificuldade vem das perdas pós-colheita e dos padrões cada vez mais exigentes dos países importadores.
A tecnologia da Bioplix — que integra o SNASH, hub de startups apoiado pela Sociedade Nacional de Agricultura (SNA) — é baseada em um líquido que, quando aplicado sobre a fruta (por aspersão ou imersão), forma um revestimento protetor — quase como uma “película invisível” que preserva o alimento.
A formulação possui propriedades antimicrobianas e capacidade de retardar o amadurecimento, ampliando em até 4 vezes a vida útil dos produtos.
“Esse produto tem atividade antimicrobiana, e possui propriedades que permitem retardar o amadurecimento do fruto, e tudo isso potencializa, agrega valor à fruta, para reduzir as perdas, manter a sua qualidade estética, nutricional, o seu sabor, o odor preservado por mais tempo”, detalha Paz.
A Bioplix é uma startup gaúcha apoiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio Grande do Sul (FAPERGS), por meio de aprovações em editais estratégicos para aumento da competitividade do RS e de suas empresas, como o Centelha RS, TECNOVA 3 RS e Manutenção de Talentos – Emergência Climática.


Comparativos de mamão e tomate que receberam e que não receberam a aplicação do produto da Bioplix. Imagens: Divulgação
Inovação equilibrada: segurança, eficiência e custo
O mercado internacional é rigoroso. Em países como os europeus, lotes inteiros de frutas são rejeitados caso apresentem resíduos de substâncias tóxicas — como o formol, que infelizmente ainda aparece em cargas brasileiras, segundo relatos obtidos pela Bioplix junto a órgãos como Embrapa e Anvisa.
Por isso, a startup adota uma estratégia de inovação “incremental”: trabalhar com ingredientes já aprovados para uso em alimentos, reduzindo os gargalos regulatórios e acelerando a entrada no mercado.
“Também temos projetos de inovação disruptiva em andamento, mas priorizamos soluções que já podem ser aplicadas com segurança e sem riscos legais”, explica Luan.
Outro ponto crucial é o custo.
A Bioplix busca que suas tecnologias mantenham preços compatíveis com os produtos tradicionais, mas oferecendo uma eficiência superior.
“A inovação não pode ser só científica, ela precisa fazer sentido comercialmente. Não adianta criar um produto que amplia a vida útil da fruta, mas que custa dez vezes mais”, diz.
Fábrica própria e testes de mercado
Atualmente, a Bioplix está trabalhando na instalação de sua primeira fábrica piloto, também dentro da incubadora da UFRGS. A unidade seguirá os padrões de Boas Práticas de Fabricação (BPF), exigidos pela Vigilância Sanitária, e deve entrar em operação até o final de 2025.
A capacidade de produção será suficiente para tratamento de 500 a 600 toneladas de frutas por mês, utilizando formulações concentradas com alto rendimento, apenas 3 a 5 mililitros de produto por quilo de fruta tratada.
Enquanto a produção em escala se estrutura, a startup conduz provas de conceito em parceria com produtores de pequeno e médio porte, exportadores e centros de distribuição como a CEASA de Porto Alegre.
“O foco principal são os produtores voltados à exportação, mas também há espaço para atender o mercado interno”, explica o CEO. “O objetivo é validar a eficácia do produto e demonstrar seu custo-benefício.”
Olhando para o futuro
Com uma equipe técnica e parceiros formados por engenheiros químicos, engenheiros de alimentos e agrônomos, a Bioplix aposta que a combinação de ciência de ponta, respeito às normas e visão de mercado pode fazer a diferença para o agronegócio brasileiro.
“O pós-colheita ainda é uma área cheia de oportunidades para inovação. Nosso objetivo é ser um agente dessa transformação, oferecendo produtos que não apenas prolonguem a vida da fruta, mas também fortaleçam a imagem do Brasil no exterior”, conclui Luan Paz.